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O que falta para mais empresas canábicas adotarem práticas de impacto social?

Nos últimos anos, o mercado global tem passado por uma transformação profunda. A pressão por práticas empresariais sustentáveis, responsáveis e inclusivas não é mais opcional — ela é uma exigência do consumidor, do investidor e da sociedade como um todo (Harvard Business Review, 2022). ESG (ambiental, social e governança) não é apenas uma sigla: é o novo padrão esperado para qualquer negócio que almeja longevidade e relevância.

Startups, grandes corporações e fundos de investimento estão cada vez mais sendo avaliados não apenas pelo lucro, mas pelo valor que geram para a sociedade. Investimentos ESG já movimentam trilhões de dólares globalmente, e empresas com forte compromisso com impacto social apresentam, em média, melhor desempenho financeiro no longo prazo (IEPS, 2023). No Brasil, programas como o BNDES Impacto e fundos de investimento de impacto vêm canalizando recursos para negócios que conseguem equilibrar lucro e propósito.



Do mercado ao setor canábico: onde está o compromisso ESG?


Neste contexto, o setor canábico se insere como uma nova fronteira de oportunidades — mas também de responsabilidades. Trata-se de um mercado que, além do potencial bilionário, carrega uma herança histórica marcada pela criminalização, repressão e exclusão social. A legalização da cannabis não pode reproduzir a lógica de exclusão de outros setores: é preciso garantir que os grupos mais afetados pela guerra às drogas — pessoas negras, periféricas, egressos do sistema prisional — tenham acesso às oportunidades que se abrem (Calabria et al., 2010).

Entretanto, muitos negócios no setor ainda operam à margem deste debate. Cadeias produtivas são organizadas sem diálogo com os territórios impactados, e a inclusão social se limita, muitas vezes, a discursos institucionais vazios. A ausência de indicadores, métricas e políticas públicas específicas agrava o cenário.



Obstáculos à implementação do impacto social

A adoção de práticas de impacto enfrenta obstáculos estruturais. Muitos empreendedores ainda enxergam impacto social como caridade, e não como um pilar estratégico. Além disso, faltam políticas que vinculem o licenciamento de empresas a contrapartidas sociais. Em países como os EUA e o Canadá, programas de "licenciamento social" exigem que empresas invistam em comunidades vulnerabilizadas. No Brasil, esse tipo de medida ainda é inexistente (IEPS, 2023).


Outro ponto crítico é a falta de conhecimento técnico sobre como estruturar, mensurar e comunicar impacto. Isso afeta sobretudo empreendedores periféricos, cooperativas e associações de base comunitária, que enfrentam barreiras adicionais de acesso a financiamento, capacitação e redes de apoio (FASE, 2021).



O papel da Sinapse Social

A Sinapse Social atua para preencher essa lacuna. Por meio de metodologias próprias, consultorias, formações e produção de conhecimento, apoiamos empreendedores a estruturar negócios de impacto real no setor canábico. Isso inclui o desenvolvimento de indicadores sociais, desenho de programas de inclusão, apoio à construção de políticas internas de diversidade e sustentabilidade, e fortalecimento de cadeias produtivas justas.


Nosso trabalho também se estende à articulação entre diferentes atores do ecossistema: fundos de investimento, universidades, movimentos sociais e governos. Apoiamos a formação de cooperativas e iniciativas de economia solidária, com foco na geração de renda territorializada e inclusão de populações historicamente excluídas. Acreditamos que o impacto só será real se for coletivo e se partir de uma lógica de reparação (Souza & Barbosa, 2020).



Ampliando o compromisso no ecossistema canábico

Falar de impacto social no setor canábico não é falar apenas das empresas que cultivam ou vendem produtos à base de cannabis. Estamos falando de todo um ecossistema que inclui desde startups de tecnologia e pesquisa até cooperativas agrícolas, clínicas de saúde, lojas de cosméticos, fundos de investimento e associações civis. Todos têm responsabilidade.


Nesse contexto, práticas de ESG reais — e não apenas decorativas — precisam integrar a operação e a estratégia do negócio. Isso significa empregar moradores de comunidades afetadas, garantir acesso à formação técnica e científica, apoiar lideranças negras e femininas, criar mecanismos de redistribuição de receita e investir em soluções sustentáveis para a cadeia produtiva.



Conclusão

Para que mais empresas do setor canábico adotem práticas de impacto social, é preciso mudar o ponto de partida. Impacto não é uma consequência eventual — é uma decisão estratégica. Envolve formação, financiamento, apoio técnico e políticas públicas que incentivem o ecossistema a funcionar de forma justa.


O futuro sustentável do mercado canábico depende de sua capacidade de gerar valor compartilhado — envolvendo toda a comunidade impactada pela proibição, desde egressos e moradores da favela até as famílias de policiais vítimas do conflito. É um caminho que exige coragem, inovação e, sobretudo, compromisso.


A Sinapse Social acredita que é possível — e necessário — construir um setor que reconheça sua história, repare suas injustiças e impulsione desenvolvimento com equidade.


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Referências citadas

  • Calabria, B., Degenhardt, L., Hall, W., & Lynskey, M. (2010). Does cannabis use lead to mental health problems? Addiction, 105(6), 916–924.

  • FASE. (2021). Economia circular e políticas públicas.

  • Grand View Research. (2023). Legal Marijuana Market Size, Share & Trends Analysis Report.

  • Harvard Business Review. (2022). The Business Case for ESG.

  • IEPS. (2023). Instituto de Estudos para Políticas de Saúde.

  • Souza, R. & Barbosa, D. (2020). Cooperativas populares e a economia solidária como estratégias de emancipação social. UFRJ.


 
 
 

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