Quais desafios sua empresa enfrenta para implementar práticas de ESG no mercado de cannabis?
- Vinicius Alvarenga
- 23 de out.
- 3 min de leitura
A discussão sobre ESG (Ambiental, Social e Governança) não pode ser tratada como um apêndice do setor da cannabis — especialmente em um país marcado por desigualdades estruturais e pelo histórico proibicionista que criminalizou desproporcionalmente comunidades negras e periféricas. Integrar ESG de forma real, e não como peça de marketing, é hoje uma das maiores oportunidades (e também desafios) para empresas que desejam se posicionar de forma ética, estratégica e sustentável.
Desafios reais, não retóricos
Apesar do crescimento global da pauta ESG, muitos empreendedores do setor da cannabis enfrentam desafios concretos na hora de implementar essas práticas: burocracia, ausência de linhas de crédito, dificuldade em acessar consultorias qualificadas, falta de referência sobre o que significa “impacto social real” e pouca clareza sobre indicadores de mensuração (FGV, 2021; OSORIO, 2019).
A complexidade do ambiente regulatório, somada à insegurança jurídica do setor no Brasil, contribui para que muitas empresas acabem priorizando a sobrevivência econômica imediata, relegando a construção de impacto social para um segundo plano. No entanto, deixar essa integração para depois pode significar perder legitimidade junto a investidores, consumidores e reguladores — além de falhar em responder à urgência histórica da reparação e inclusão (FIGUEIREDO, 2021).
ESG como motor de inovação e lucratividade
O setor canábico tem uma vantagem significativa: ele nasce num momento histórico em que a agenda ESG já está consolidada globalmente. Isso permite que empresas não tenham que adaptar modelos antigos, mas sim criar desde o início processos, produtos e relações que integrem sustentabilidade, inclusão e governança.
Experiências internacionais mostram que o investimento em ESG não compromete a lucratividade — ao contrário, pode aumentá-la. Nos Estados Unidos, empresas que operam com cadeias rastreáveis, práticas regenerativas e inclusão de minorias têm atraído mais capital de risco e obtido maior fidelização de clientes (Leafly, 2022; MJBizDaily, 2023).
Além disso, dados da consultoria New Frontier Data (2023) apontam que negócios canábicos com estratégias ESG bem estruturadas obtiveram crescimento anual 27% superior em receita líquida comparados a empresas sem esse tipo de política. Empresas que investem em cadeias produtivas inclusivas e na redução de impacto ambiental têm maior atratividade para fundos internacionais, sobretudo aqueles voltados para finanças sustentáveis.
Na Colômbia, o programa "Cannabis para la Paz" reúne cooperativas agrícolas familiares, indígenas e mulheres cultivadoras como parte de uma estratégia econômica e social. Isso criou empregos locais e atraiu investimentos estrangeiros com impacto social mensurável (ONU Mulheres, 2021).
No Brasil, iniciativas parecidas poderiam aproveitar a vocação agrícola do país e criar modelos produtivos com geração de renda nas periferias urbanas e no campo, inspirados no fortalecimento da agricultura familiar no mercado de orgânicos. O paralelo com o agro é importante: quando houve estímulo técnico e logístico para pequenos produtores orgânicos, cresceu-se uma rede que hoje movimenta bilhões e responde por quase 20% da produção nacional em hortifrúti (IBGE, 2022).
Como a Sinapse pode apoiar
A Sinapse Social entende que implementar ESG no setor canábico exige uma abordagem transversal. Isso passa por:
mapear os territórios de impacto;
estruturar planos de contratação inclusiva (negros, mulheres, egressos do sistema penal);
definir metas ambientais mensuráveis (uso de energia, manejo de resíduos, biorremediação com cânhamo);
capacitar lideranças com base em governança e transparência;
criar parcerias com universidades e institutos para medir, auditar e comunicar resultados com responsabilidade.
Mais do que uma consultoria, a Sinapse atua como parceira estratégica para que o ESG não seja uma obrigação, mas um diferencial competitivo que reposiciona a empresa no mercado e na sociedade.
Conclusão
Integrar ESG ao setor de cannabis não é uma tarefa simples, mas é um caminho necessário para garantir a legitimidade e sustentabilidade desse ecossistema. Superar os desafios passa por reconhecer que impacto social não se faz apenas com discurso — mas com estrutura, intenção e dados. O futuro das empresas canábicas no Brasil depende da sua capacidade de provar que podem lucrar fazendo o certo.
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Referências citadas
FIGUEIREDO, Emílio. A Advocacia e a Maconha: uma etnografia sobre os advogados nas defesas e demandas da Cannabis no Brasil. UFF, 2021.
OSORIO, Leticia Marques. Litígio estratégico em direitos humanos: desafios e oportunidades. Revista Direito e Práxis, 2019.
Fundação Getulio Vargas (FGV). Impactos econômicos da regulação da cannabis no Brasil, 2021.
Leafly Jobs Report. Cannabis Jobs Report, 2022.
MJBizDaily. Annual Cannabis Business Factbook, 2023.
New Frontier Data. Global Cannabis Report, 2023.
ONU Mulheres. Cannabis para la Paz – Buenas Prácticas en Colombia, 2021.
IBGE. Pesquisa de Produção Agrícola Municipal (PAM), 2022.






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